sábado, 18 de maio de 2013

Ficções - A Memória e a Eternidade (Jorge Luís Borges)

Mário Vargas Llosa, disse um dia, acerca de Jorge Luís Borges: “Aquilo que é revolucionário acerca da prosa de Borges é que ela contém tantas ideias, quantas as palavras, daí a sua precisão e consciência serem absolutas”. Essencialmente, Borges, parece ser conduzido pela necessidade de explorar ideias. Aquilo que surge como mais notável, acerca da sua escrita, é a maneira como ele direcciona grandes temas - o tempo e a realidade - em tão compactas narrativas. As suas histórias são muito curtas, a maioria com cerca de dez páginas, com uma linguagem correspondente, sem adornos, mas alcançando o máximo da profundidade, o que pode parecer paradoxal. As suas histórias como ele próprio declarou, provem, na sua maioria, de “memórias meio apagadas”: ele escreve acerca de um extraordinário número de tipologias, situações e paradoxos temporais.” Ficções” é, assim, uma obra surpreendentemente produzida pela imaginação. Em 1942, o autor argentino publicava a sua segunda antologia de ficção "O Jardim de Caminhos que se Bifurcam", contendo oito pequenas novelas. Em 1944, uma nova secção de seis contos, designada "Artífices", é adicionada à anterior, transformando-se no colectivo que constitui o título “Ficções”; a obra possui, ainda, dois prólogos. No prólogo deste segundo livro, escrito em 29 de Agosto de 1944, Borges assinala: "Embora de execução menos grosseira, as peças deste livro não diferem das que formam o anterior. Porventura haverá duas que permitem uma menção demorada: "A morte e a bússola", "Funes, ou a memória". A segunda é uma longa metáfora da insônia. A primeira, apesar dos nomes alemães ou escandinavos, passa-se numa Buenos Aires de sonhos: a tortuosa Rue de Toulon é o Paseo de Julio; Triste-le-Roy, o hotel onde Herbert Ashe recebeu, e se calhar não leu, o décimo primeiro tomo de uma enciclopédia ilusória". Na edição de 1956, Borges, adicionou ainda mais três histórias à secção "Artífices". Desde a sua primeira história,” Tlon, Uqbar, Orbius Tertius”, a qual relata uma fantástica conspiração que atravessa continentes e gerações, num desafio a Deus, através da compilação de uma inteira história, natural, social, política e cultural de um planeta imaginário, a colecção de pequenas histórias de Borges, constitui uma boa introdução ao trabalho ficcional de Borges. O jornal Le Monde inclui “Ficções” numa lista das 100 mais importantes obras literárias do século XX. O autor recebeu, ainda, em 1961, o Prémio Internacional dos Editores. Nas suas histórias, Borges, examina, em detalhe, a dificuldade de pensar a natureza do tempo e da realidade, naquilo que, estas ideias, reflectem de humano: a arte, a literatura, a filosofia e a vida. Aparte algumas excepções (O Sul, O Fim, Tema do Traidor e do Herói e talvez A Forma da Espada) estas novelas inscrevem-se, todas elas, no quadro da literatura fantástica, mas renovando o género a tal ponto, que se poderá dizer que Borges inventou a "ficção-filosófica". As suas explorações do tempo e da realidade são profundas, mas ao mesmo tempo, extremamente didácticas. Particulamente impressionantes, sob este ponto de vista, encontram-se as novelas,” Tlon, Uqbar, Orbis Tertius”, à qual já fizemos referência, e a Biblioteca de Babel. É, precisamente, neste conto que surgem os temas predilectos de Borges: as numerosas notas literárias, por vezes voluntariamente fantasistas, que se estendem no” Exame da obra de Herbert Quain” e “Pierre Ménard, autor de Quixote”; a metafísica e a teologia também referidas em “Tlon, Uqbar, Orbis Tertius” e “Três versões de Judas”; os labirintos, que surgem também em histórias como “As Ruínas Circulares” e “O Jardim de caminhos que se Bifurcam”; por fim a ideia de infinito.
As suas novelas remetem, consistentemente, para a exploração de um mesmo território - o que se refere à procura do significado do homem, num mundo que definitivamente ele nunca conseguirá controlar, nem compreender . O conceito de labirinto é, assim, um motivo recorrente nas diferentes histórias. É utilizado como metáfora para representar o avolumar da complexidade da natureza, dos mundos e dos sistemas que existem neles, das tarefas humanas, dos aspectos físicos, mentais e humanos e na utilização de conceitos como o Tempo. As próprias histórias de Borges podem, ainda, ser vistas, elas próprias, como labirintos: Borges narra muitas vezes sob o nome de "Borges", algo como um tropo pós-moderno, onde poderemos encontrar o progenitor em todas as suas histórias. Borges ama os livros e apresenta detalhadas descrições das características desses textos, nas suas histórias. Há inúmeras recensões acerca de todos os possíveis e imaginários livros, trabalhos de ficção fantástica, histórias tipológicas, etc. Outros temas utilizados são assuntos filosóficos, jogos de estratégia e acaso, conspirações e sociedades secretas, diferentes grupos étnicos, que, muitas das vezes, têm a ver com os seus próprios antepassados. Há, contudo, em toda esta ficção e irrealidade, da escrita de Borges, uma realidade que brilha. No conto “Funes ou a Memória”, o personagem é condenado a lembrar cada instante da sua tortuosa existência, como metáfora do medo implícito, na humanidade, da presença da Eternidade; mas quando finalmente, Hladik, sucumbe e expira, representa, assim, a sua vitória, um símbolo de todos nós.V.A.

Nenhum comentário:

Postar um comentário