|
Hesíodo e a Musa, de Gustave Moreau.
O poeta é representado aqui com uma lira, o que
contradiz o relato apresentado pelo próprio
Hesíodo, no qual o presente foi um ramo de louros. |
Hesíodo (em grego: Ἡσίοδος, transl. Hēsíodos) foi um poeta oral grego da Antiguidade, geralmente tido como tendo estado em atividade entre 750 e 650 a.C., por volta do mesmo período que Homero. Sua poesia é a primeira feita na Europa na qual o poeta vê a si mesmo como um tópico, um indivíduo com um papel distinto a desempenhar. Autores antigos creditavam a ele e a Homero a instituição dos costumes religiosos gregos, e os acadêmicos modernos referem-se a ele como uma das principais fontes para a religião grega, as técnicas agriculturais, o pensamento econômico (chegou a ser referido, por vezes, como o primeiro economista), a astronomia grega arcaica e o estudo do tempo.
Hesíodo utilizou diversos estilos do verso tradicional, incluindo a poesia gnômica, hínica, genealógica e narrativa, porém não foi capaz de dominar todas com a mesma fluência; as comparações com Homero costumam lhe ser desfavoráveis. Nas palavra de um estudioso moderno de sua obra, "é como se um artesão, com seus dedos grandes e desajeitados, estivesse imitando, paciente e fascinadamente, a costura delicada de um alfaiate profissional."
Três obras atribuídas a Hesíodo por comentaristas antigos sobreviveram: Os Trabalhos e os Dias (ou As Obras e os Dias), a Teogonia, e O Escudo de Héracles (embora exista alguma dúvida a respeito da autoria deste último, tido por alguns estudiosos como sendo do século VI a.C.). Outras obras atribuídas a ele existem apenas na forma de fragmentos. As obras e fragmentos existentes foram todos escritos na língua e na métrica convencional da poesia épica. Alguns autores antigos chegaram a questionar a autenticadade da Teogonia (Pausânias, 9.31.3), embora o autor cite a si mesmo pelo nome no poema (verso 22). Embora sejam diferentes em diversos aspectos, a Teogonia e Os Trabalhos e os Dias partilham uma prosódia, uma métrica e uma linguagem característica, que o distinguem sutilmente da obra de Homero e do Escudo de Héracles. (ver O grego de Hesíodo). Além disso, ambos se referem à mesma versão do mito de Prometeu. Ambos os poemas, no entanto, podem conter interpolações; os primeiros dez versos do Trabalhos e Dias, por exemplo, podem ter sido apropriados de um hino órfico a Zeus.
Alguns estudiosos detectaram uma perspectiva proto-histórica em Hesíodo, um ponto de vista rejeitado pelo professor de história grega da Universidade de Cambridge, Paul Cartledge, por exemplo, que alega que Hesíodo advogaria uma visão centrada nas recordações, sem qualquer ênfase na verificação dos fatos. Hesíodo também foi considerado o pai do verso gnômico. Tinha "uma paixão por sistematizar e explicar as coisas". A poesia grega antiga em geral tinha fortes tendências filosóficas, e Hesíodo, como Homero, demonstra grande interesse numa ampla gama de questões 'filosóficas', que vão da natureza da justiça divina aos inícios da sociedade humana. Aristóteles (Metafísica, 983b-987a) acredita que a questão das primeiras causas pode até mesmo ter começado com Hesíodo (Teogonia, 116-53) e Homero (Ilíada, 14.201, 246).
Hesíodo via o mundo de fora do círculo encantado dos governantes aristocráticos, protestando contra suas injustiças num tom de voz que foi descrito como tendo uma "qualidade ranzinza redimida por uma dignidade lúgubre", porém ele também se mostrava capaz de alterar esse tom para se adequar ao público. Esta ambivalência parece permear sua apresentação da história humana nos Trabalhos e Dias, onde ele descreve um período de ouro no qual a vida era fácil e boa, seguida por um declínio constante no comportamento e felicidade do homem ao longo das idades de Prata, Bronze e Ferro - porém ele insere entre estes dois últimos períodos uma era histórica, representando assim estes homens belicosos sob uma luz mais favorável que seus antecessores, da Idade do Bronze. Ele parece estar, neste caso, querendo satisfazer duas visões de mundo distintas, a épica e a aristocrática, com aquela apresentando pouca simpatia pelas tradições heróicas da aristocracia.
Para Werner Jaeger, famoso helenista alemão, com Hesíodo surge o subjetivo na literatura. Na época antiga, o poeta era um simples veículo comandado pelas Musas; já Hesíodo assina sua obra para fazer uma história pessoal. Após exaltar as Musas que o inspiram, diz ele no começo da Teogonia: "Foram elas que, certo dia, ensinaram a Hesíodo um belo canto, quando ele apascentava suas ovelhas ao pé do Hélicon divino".
Nenhum comentário:
Postar um comentário