sábado, 18 de maio de 2013

Na Penúria em Paris e em Londres – George Orwell

Após abandonar o seu posto, como agente da polícia, em Burma, para se tornar escritor, George Orwell (Eric Blair) deambulou, entre quartos, em Portobello Road, Londres, nos finais de 1927. Enquanto contribuía para vários jornais, estabelecia expedições para investigar burlas, à volta de Londres, recolhendo informações para uso em “The Spike”, o seu primeiro ensaio publicado e, mais tarde, metade de “Na Penúria em Paris e em Londres”. Na Primavera de 1928 viajou para Paris, onde viveu no n.º 6 da Rue de Pot de Fer, no Quartier Latin, conhecido bairro boémio com ar cosmopolita. Escritores americanos, como Ernest Hemingway ou F. Scott Fitzgerald, viveram na mesma área. No seguimento da Revolução Russa houve uma grande comunidade russa que emigrou para Paris. A tia de Orwell, Nellie Limouzin, viveu também em Paris e apoiou-o financeiramente. Orwell teve uma vida social activa, trabalhou nas suas novelas e vários artigos seus foram publicados, nesta época, em revistas de vanguarda. “Na Penúria em Paris e em Londres” é a sua primeira obra de fundo publicada em 1933. É um conjunto de memórias, dividido em duas partes, tendo como tema principal a pobreza naquelas duas cidades. O manuscrito original da obra tinha como título, “Days in London and Paris”, esta obra sofreu, no entanto, várias alterações no nome, tendo sido, a certo ponto, sugerido o título de “A Scullion’s Diary”, numa versão rejeitada por T.S. Eliot, quando este era editor na Faber & Faber. A editora que aceitou, finalmente, o manuscrito propôs a Orwell uma nova alteração do nome para “Lady Poverty”, o qual foi rapidamente afastado pelo escritor. O editor apresentou, então, uma proposta de alteração para “Confessios of Down and Out” e Orwell apresentou uma contraproposta para “ Confessions of a Dishwasher”; no fim, estabeleceram o título de compromisso. Orwell não desejou publicar as suas obras sob o nome de Eric Blair e, Orwell, foi o nome utilizado na maioria dos seus trabalhos – embora, pontualmente, escrevesse alguns artigos com o nome Eric Blair. “Na Penúria em Paris e em Londres” foi publicado em 9 de Janeiro de 1933. Posteriormente foi também publicado pela Harper & Brothers de Nova Iorque. As vendas foram baixas, até Dezembro de 1940, quando a Penguin Books imprimiu 55.000 cópias, para venda, a seis cêntimos cada uma.
Nesta história, Orwell conta-nos como viveu quando se encontrava financeiramente destituído, como viveu em Paris, sempre com pouco dinheiro, tendo sido, apesar disso, roubado e ficado na maior das pobrezas e como que desde que esta má-sorte lhe sucedeu, passou a aceitar mais facilmente a situação de pobreza em que se encontrava. As descrições são, pois, hiper-realistas e consequentemente detalhadas – apresenta-nos exactamente os pormenores, como se um amigo num qualquer bar o interrogasse, enquanto bebiam um copo. Dá-nos números exactos acerca do preço das coisas e descreve-nos em pormenor como mantém, com dificuldade, alguns alimentos no seu quarto. Conta-nos, ainda, como poupa algum dinheiro, comprando uma qualidade de pão mais barato e como consegue, ocasionalmente, algum trabalho como limpador de pratos, o que lhe garante a subsistência por mais algum tempo, permitindo-lhe recorrer à ajuda de alguns familiares em Londres. Contudo, o trabalho que vai conseguindo, nem sempre decorre como era esperado. Salienta também, a diferença substancial dos métodos e recursos que os pobres utilizam para sobreviver, quer se vivesse em Londres ou em Paris. O autor de Animal Farm, apresenta, desta forma, ao leitor, uma visão empenhada e política, tendo como pano de fundo a pobreza e os desprotegidos. Os relatos ocorrem em 1933, em plena Grande Depressão. O espectro de pobreza era, então, alargado e Orwell aproveita, tal oportunidade, para chamar a atenção sobre os mais desprotegidos e apelar consequentemente aos corações daqueles que vivem em melhores situações. Tendo vivido na pobreza, Orwell, enquanto escritor, sente a necessidade de manter uma atitude atenta e lúcida sobre tais factos e situações. Passados cerca de 80 anos sobre a publicação de ”Na Penúria em Paris e em Londres “, a temática e o estilo do autor merecem atenção especial sobre uma obra cujo conteúdo para além de actual, não nos permite afastar a perene condição de fragilidade do ser humano.V.A.

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